quinta-feira, 19 de abril de 2007

Quatro acusados na CPI da EBAL

Jornal A Tarde, Política
19 de abril de 2007
pg 16

Foto: Apesar de evitar acusações concretas, o depoimento de Reub Celestino evidenciou a grave crise da Ebal.

Repórter: Flávio Oliveira
foliveira@grupoatarde.com.br

Os primeiros nomes de responsáveis por supostas irregularidades na Empresa Baiana de Alimentos (Ebal, que administra as lojas da Cesta do Povo) foram tornados públicos ontem durante depoimento do presidente da empresa, Reub Celestino, à CPI criada pela Assembléia Legislativa para apurar denúncias de corrupção na empresa durante os governos do PFL (1991-2006). Celestino tentou se esquivar, mas acabou jogando os holofotes sobre quatro ex-funcionários da empresa: Geraldo Oliveira, ex-diretor administrativo, José Mário Galvão, ex-diretor de operações; Leôncio Cardoso Neto, ex-gerente de Engenharia e manutenção, e um homem de prenome René, que trabalhava no Centro de Distribuição da Ebal em Feira de Santana. Celestino também levantou suspeitas sobre contratos para fretes (transporte de mercadorias) e para os contratos de manutenção firmados com a Organização do Auxílio Fraterno (OAF), ONG que foi dirigida pelo padre Clodoveo Piaza, ex-secretário estadual de Combate à Pobreza.

A TARDE não localizou os ex-diretores da Ebal até o fechamento da edição. A OAF agendou para hoje entrevista com objetivo de se pronunciar. O novo governo afirma que encontrou a Ebal praticamente falida, com estoques zerados, dívidas que somam R$ 300 milhões e prejuízo acumulado de R$ 620 milhões. Os nomes surgiram a partir de um questionamento do deputado Yulo Oiticica (PT), que perguntou se os quatro eram funcionários da Ebal e que cargos ocupavam.Celestino disse que devolveu Geraldo Oliveira para o Desenbahia – órgão ao qual era oficialmente vinculado –, que José Mário Galvão foi demitido em dezembro, ainda na gestão passada, e recebeu R$ 400 mil de FGTS antes do início do novo governo, quando a equipe de transição já anunciava que a empresa estava atolada em cerca de R$ 300 milhões em dívidas. Celestino disse ainda que demitiu Leôncio Neto e René pelas “informações de que ambos não se enquadrariam no novo perfil de administração da empresa”.

DOSSIÊ – Os quatro nomes citados são ligados ao ex-presidente da empresa Omar Brito, que será convocado para depor na quarta-feira. Os quatro são acusados de enriquecimento ilícito em um dossiê anônimo. O texto foi entregue ao PT e à direção da Ebal no início deste ano. Celestino confirmou que as denúncias contra os ex-funcionários são anônimas, mas não relatou casos concretos. Mesma postura foi adotada por Yulo Oiticica. E Celestino seguiu na mesma linha – de levantar suspeitas mas sem se aprofundar em acusações – quando se referiu à OAF e aos contratos de frete. Disse que a OAF tinha um contrato de R$ 100 mil por mês em 2003 e que este contrato foi aditivado para R$ 240 mil nos anos seguintes.“Não entendo por que a OAF recebeu R$ 13 milhões por ano”, disse.

Segundo Celestino, a OAF tinha dois contratos com a Ebal. O primeiro primeiro era de manutenção e pequenas reformas nos prédios das lojas Cesta do Povo. O segundo era para a intermediação de mão-de-obra para o programa Nossa Sopa. O presidente da Ebal voltou a falar em uso de técnicas de contabilidade para esconder despesas e prejuízos da empresa. Um dos artifícios envolveria a OAF, já que os recursos gastos nas obras foram parar na rubrica de “imobilização de patrimônio” (investimentos), mesmo com as obras sendo executadas em prédios alugados e não-pertencentes à empresa. Antes da OAF ser contratada, contrato semelhante foi firmado entre a Ebal e o Liceu de Artes e Ofícios.

Sobre os pagamentos de fretes – citado pelo governador Jaques Wagner (PT) como exemplo de irregularidades no discurso de reabertura da Cesta do Povo – , disse que há coisas das quais não poderia falar. Repetiu a afirmativa quando questionado por Júnior Magalhães (DEM), mas recuou quando cobrado por Luiz de Deus: “Não tinha intenção de levantar suspeitas contra quem quer que seja”. Quanto aos gastos com publicidade e patrocínio de projetos culturais da Ebal, apontou três erros . O primeiro seria o volume de recursos aplicados nessas rubricas por uma empresa que estaria em vias de falência. O segundo é que anúncios e patrocínios não eram feitos diretamente pela Ebal e sim por agência de propaganda. O terceiro era o fato de a agência receber percentuais pela intermediação. Em 2006 a Ebal gastou R$ 17,8 milhões com publicidade e patrocínios de blocos de Carnaval).

Parlamentar e presidente da empresa esquentam o debate na Assembléia

O depoimento do presidente da Ebal, Reub Celestino, não poupou políticos ligados ao antigo governo do Estado. No diagnóstico que fez para encontrar as causas dos prejuízos e dívidas da Ebal, Celestino apontou como problemas o excesso de pessoal e ingerências políticas na administração da empresa.

Afirmou também que, no passado, havia proteção a fornecedores indicados por políticos, que cobrariam da Ebal preços maiores que os cobrados para outras empresas de varejo. O deputado Ângelo Coronel (PR) visivelmente ficou desconfortável e demonstrou o desconforto quando fez uso da palavra, falando em um volume de voz acima do usado pelos colegas.

Coronel perguntou sobre a fase de transição entre governos e se os gastos com publicidade não seriam necessários pela competição entre lojas varejistas que atuam na Bahia. Também aproveitou o tempo para fazer sugestões para melhorar a gestão da empresa. O deputado republicano interrompeu as resposta de Celestino em diversos momentos, criando um debate.
Celestino não recuou. Ao contrário, avançou ainda mais nas suas críticas e focou Coronel nelas, afirmando que um dos grupos de fornecedores privilegiados na gestão passada foi o de produtores de café e citou um modelo de contrato da Ebal com esses fornecedores que privilegiava a compra de café de produtores regionais, o que encarecia o preço do produto vendido ao consumidor. O deputado já havia admitido em sessão anterior da CPI ter um filho que é sócio de uma empresa fornecedora da Ebal.

Esse parentesco, inclusive, levou o relator da comissão, José Neto (PT), a questionar seu impedimento de participação nos trabalhos da CPI. A questão foi levada à Procuradoria Jurídica da Assembléia, que até não respondeu ao requerimento. O presidente da Ebal falou que a Ebal não vai mais comprar café regionalizado, para privilegiar peço ao consumidor e margem de lucro da empresa. Coronel rebateu, fora dos microfones, que desse modo Celestino estaria comprando briga com os produtores de café.

Curiosidades de um depoimento

Revelações feitas por dirigente da Empresa Brasileira de Alimentos (Ebal), na Assembléia Legislativa, reforçam a tese dos que afirmam que há coisas que só acontecem na Bahia O presidente da Ebal, Reub Celestino, revelou ontem, duas curiosidades durante seu depoimento na Assembléia Legislativa.

A primeira foi a de que a lata da embalagem da Nossa Sopa é fornecida à Ebal pela Livraria Cultura (localizada na Pituba, em Salvador). Celestino foi irônico quando perguntado por que isso acontecia: “Só poderei explicar quando encontrar uma metalurgia que produza livros”.
A segunda curiosidade refere-se a uma suposta falta de comunicação entre as diversas instâncias do governo anterior.

Reub Celestino contou que a Ebal tem créditos a receber de R$ 4 milhões referentes a compras não pagas, pelo Credicesta, feitas por funcionários contratados pelo Regime de Direito Administrativo (Reda). É que esses funcionários tinham o direito ao financiamento de suas compras como servidores efetivos, mas quando eram demitidos permaneciam com o cartão e as secretarias estaduais da Administração e da Fazenda não comunicavam a demissão à Ebal.

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