sábado, 14 de abril de 2007

Tribunal não julga contas da Ebal desde 2003

Jornal A Tarde, Política
14 de abril de 2007
pg 16

Repórter: Flávio Oliveira
Foto: Honorato se comprometeu a ajudar a CPI da Ebal disponibilizando técnicos do TCE e documentos solicitados

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) não julga as contas da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), que administra a Cesta do Povo, desde 2003. Esse atraso foi apontado pelos deputados que compõem a CPI da Ebal na Assembléia Legislativa da Bahia como responsável pela morosidade dos trabalhos da comissão. Por conta da falta dos julgamentos, o TCE não remeteu aos deputados os relatórios de fiscalização na Ebal dos últimos anos. Os parlamentares também dizem que a postura do TCE em relação às contas da Ebal influenciou no estágio em que a empresa foi encontrada pelo novo governo: estoques vazios e dívidas em torno de R$ 300 milhões, sendo R$ 84 só com fornecedores.

O presidente do TCE, Antônio Honorato, admitiu a informação de que a corte não julga as contas da Ebal desde 2003, mas transferiu a responsabilidade para os conselheiros Pedro Lino e Manoel Castro, relatores da prestação de contas da empresa nos anos de 2003 (Lino) e 2004 e 2005 (Castro). “A presidência só tem responsabilidade quando o relatório é votado em plenário”, afirmou. Honorato disse ainda que se comprometeu em auxiliar a CPI e que cumpre com sua palavra, em primeiro lugar por ter disponibilizado dois técnicos para ajudarem as investigações parlamentares e a garantia de enviar os documentos pedidos, relatório de prestação de contas da Ebal de 2001 a 2005, assim que forem disponibilizados pelos conselheiros.

“Só recebi o ofício solicitando esses documentos na manhã de quinta-feira (anteontem)”, relatou Honorato. O pedido desses documentos ao TCE foi aprovado pela CPI em sua segunda sessão, em 28 de março. Até esta semana, de todos os documentos solicitados a outros órgãos, a CPI só havia recebido o relatório da auditoria da Ebal dos anos de 2002 e 2004 realizadas pela Auditoria Geral do Estado (AGE).

Outra “conquista” da CPI foi a confirmação de depoimento do atual presidente da empresa, Reub Celestino, na próxima quarta-feira. “Só posso tomar providências baseadas em documentos oficiais. O que posso fazer de imediato é enviar as prestações de contas de 2001 e 2002 que foram julgadas. E solicitar aos conselheiros que estão com as contas dos anos seguintes que enviem seus relatórios à CPI”, completou.

O presidente do TCE não aceitou as críticas da CPI de que a corte teria responsabilidade pela situação administrativa-financeira da Ebal. “Nas prestações de contas anuais do Poder Executivo, sempre teve um capítulo dedicado à Ebal. E essas contas foram julgadas pelo TCE e enviadas à Assembléia Legislativa, que sempre acatou o nosso parecer”, disse, referindo-se apenas às contas do governo de um modo geral, sem se considerar o julgamento setorizado das secretarias e empresas estaduais entre as quais a Ebal.

PAUTA – O conselheiro Manoel Castro afirmou que seu relatório para a prestação de contas de 2005 está pronto e que chegou a pautá-lo para apresentação em Plenário no dia 27 de março, uma semana após a instalação da CPI na Assembléia.

Porém, o retirou da pauta ao verificar que as contas de 2004 ainda não haviam sido julgadas.
“Não existe norma de que as contas devem ser julgadas por ordem cronológica. Mas é conveniente que assim seja”, disse. Manoel Castro afirmou que ao que lhe consta a conclusão do processo de prestação de contas da Ebal de 2004 depende de respostas de outros órgãos.
O conselheiro não quis entrar em detalhes sobre o seu relatório de 2005, argumentando que o plenário tem poderes de modificá-lo.

Adiantou apenas que concluiu pela aprovação das contas, com ressalvas, recomendações e com a aplicação de multas pela persistência de erros encontrados em auditorias anteriores.

Em outro momento da entrevista, Castro – que foi deputado federal e prefeito de Salvador pelo PFL – disse que as contas da Ebal sempre tiveram julgamentos polêmicos, seja por conta da publicidade da empresa, de projetos assistenciais como o Nossa Sopa, seja pelo fato de a segurança das lojas ser feita pela Polícia Militar.

O pano de fundo para estes questionamentos de alguns conselheiros seria o entendimento de que a Ebal seria uma empresa dependente e, dessa maneira, sujeita à Lei de Responsabilidade Fiscal entre outras normatizações. O Estado – embora aportasse capital à empresa anualmente –, por sua vez, entendia que a Ebal era uma empresa independente.

A mesma controvérsia acontecia no Tribunal de Contas do Estado em relação à Bahiatursa, cuja prestação de contas também foi alvo de julgamento polêmico pelo TCE e se constituiu em um dos maiores escândalos dos governos dos 16 anos de governos seguidos do antigo PFL, partido hoje rebatizado de DEM.

O conselheiro Pedro Lino também foi procurado por A TARDE, na quinta e sexta-feira, porém, não foi encontrado. Assessores de seu gabinete informaram que Lino só se pronunciaria sobre o caso depois que conhecer todos os trâmites do processo, que estava nas mãos dos técnicos e só subiu para seu gabinete neste mês, após a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito.

TCE acusado de encobrir ruína da Cesta do Povo

Repórter: Lenilde Pacheco

Cabe ao Tribunal de Contas do Estado a fiscalização contábil, financeira e patrimonial da Bahia. Na prática, a missão é acompanhar as atividades da entidades da administração direta ou indireta. Isso inclui as fundações instituídas ou mantidas pelo Estado, quanto à legalidade, legitimidade, critérios econômicos e correta aplicação de subvenções.

A fiscalização do Tribunal alcança administradores e demais responsáveis por dinheiro e bens públicos, além das pessoas físicas ou jurídicas, responsáveis pela execução de convênios ou outros meios de aplicação de subvenções e recursos repassados pelos cofres públicos.
O TCE da Bahia é presidido pelo ex-deputado Antônio Honorato de Castro Neto. Integrado pelo vice-Presidente, conselheiro Filemon Neto Matos; o corregedor Manoel Castro e demais conselheiros: Antônio França Teixeira, Pedro Henrique Lino, Ridalva Figueiredo e Ursicino Queiroz.

A composição do Tribunal se dá da seguinte forma: quando surge uma vaga, o governador escolhe um fiel aliado e o indica para a Assembléia Legislativa.

Em geral, os governos detém maioria parlamentar na Assembléia. Por isso, dificilmente a indicação de um conselheiro é contestada. Também por esse motivo, a independência dos Tribunais de Contas é questionada.

O corregedor Manoel Castro é economista, formado pela Ufba. Integrante do grupo político do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), foi secretário da Indústria e Comércio da Bahia; prefeito de Salvador e deputado federal. Foi nomeado para o TCE em 2000 (governo César Borges).

Mestre em Direito Econômico pela Ufba, Pedro Lino atuou como secretário de Governo na gestão ACM (1991-94). Foi nomeado conselheiro em 1999, (governo César Borges).
Em 2005, Pedro Lino acusou a Secretaria da Fazenda de ser responsável pelo desvio de dinheiro para conta no Bradesco, segundo ele, irregular, mantida em nome da Bahiatursa. Na época, afirmou sua gratidão a ACM, mas alegou lealdade ao povo que paga o seu salário para fiscalizar as contas públicas.

Entenda o caso

A Cesta do Povo é um dos mais emblemáticos programas herdados do ex-PFL pelo governador Jaques Wagner (PT).
-Depois de eleito, em outubro de 2006 e antes mesmo de assumir o comando da máquina estadual, o governador Jaques Wagner (PT) já questionava a relação custo-benefício da Cesta do Povo nas condições em que herdou, depois de 16 anos de administração do PFL.
-Logo que assumiu o comando administrativo do Estado, Jaques Wagner determinou que fosse feita uma espécie de radiografia da empresa. Durante 40 dias, o governo petista analisou as condições gerais de funcionamento da empresa.
-Decidiu, então, o fechamento temporário das 425 lojas da rede Cesta do Povo instaladas em 356 municípios baianos. A medida foi anunciada no dia 14 de fevereiro, às vésperas do Carnaval.
-Os novos gestores anunciaram que, num prazo inferior a 60 dias, 186 delas seriam reabertas. O governo cumpriu o cronograma com a retomada das atividades comerciais no dia 2 de abril.
-Foram escolhidas para reabertura aquelas que apresentavam melhor perspectiva comercial (como a do Ogunjá) e as que não dariam lucro, nem prejuízo (São Joaquim, por exemplo).
-O mix de produtos, que nos últimos tempos estava reduzido a menos de 30, foi ampliado para 150, priorizando os gêneros de primeira necessidade.
-O governo planeja injetar R$ 32 milhões ao longo do ano para ressuscitar a rede. A contabilidade apresentada pela atual gestão indica existir dívida de R$ 300 milhões e um patrimônio de cerca de R$ 40 milhões.
-O investimento previsto na reativação do programa permitirá que até o fim de maio 350 lojas sejam reabertas.
-O plano de ressurreição da Cesta do Povo foi apresentado pelo secretário Rafael Amoedo (Indústria, Comércio e Mineração), juntamente com o presidente da Ebal, Reub Celestino. As ações planejadas, explicaram eles, têm o objetivo de resgatar a função original da rede e vender produtos de primeira necessidade a preços mais baixos, sem onerar o Estado.
-O número de demissões será pequeno, sustentou o secretário Amoedo. O quadro de 4.200 funcionários foi reduzido, no final do governo passado, com a devolução de 900 pessoas cedidas por prefeituras. Hoje, há três mil ativos e 480 inativos.
-De acordo com as informações oficiais, a Ebal possui R$ 161 milhões de dívidas trabalhistas e R$ 82,4 milhões de dívidas com fornecedores.
-O número de fretes contratados pela Ebal é vultoso. No rol das denúncias que circulam nos meios políticos desde o ano passado, coloca-se a suspeita de que muitos deles foram forjados.
Tudo isso é alvo de auditoria.
-Além das lojas da Cesta do Povo, a Ebal tem cinco centrais de abastecimento (Salvador, Feira de Santana, Senhor do Bonfim, Vitória da Conquista e Buerarema), os mercados como Rio Vermelho e Ogunjá, a Ceasa, e quatro frigoríficos.
-Líderes políticos democratas (antigo PFL) criticam o governo petista, alegando haver uso do assunto para fazer marketing.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

CPI da Ebal não ouve o presidente Celestino

Maia renovou o convite para Reub Celestino

Diário Oficial da Bahia - Legislativo
12 de abril de 2006
pg. 03

Por causa de compromissos de última hora, o presidente da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), Reub Celestino, não pôde comparecer, conforme agendado anteriormente, à sessão de ontem da CPI da Assembléia Legislativa que investiga supostas irregularidades nas finanças da empresa. Mas o colegiado, presidido pelo deputado Arthur Maia (PMDB), decidiu renovar o convite para que Reub Celestino possa trazer à AL dados sobre o quadro encontrado na Ebal. O peemedebista fez questão de esclarecer que este será o contato inicial, que deverá ocorrer outras vezes.

O presidente Arthur Maia decidiu também sugerir a seguinte proposta de encaminhamento. "Minha idéia é que as pessoas que compareçam aqui sejam convidadas, até porque todos são inocentes até prova em contrário. No entanto, caso alguém decida não aparecer ou coloque dificuldades, aí então o convocaremos".

Na reunião de ontem, os integrantes do colegiado aprovaram também, por unanimidade, uma série de requerimentos para dar ainda mais agilidade aos trabalhos, segundo destacou o presidente.

Nesta estratégia de acelerar o andamento dos trabalhos, a CPI solicitou ao Tribunal de Contas do Estado dois auditores para ajudar na análise do material técnico, no que foi prontamente atendida pelo presidente daquela corte, Antonio Honorato. Ontem mesmo, os técnicos Gilberto Brito e Wesley Franco já estavam à disposição da Comissão.

Investigação na Ebal anda em círculos a cada sessão


Jornal A Tarde - Política
12 de abril de 2007
pg 14

Repórter: Flávio Oliveira
foliveira@grupoatarde.com.br

A CPI da Ebal da Assembléia Legislativa completou ontem quatro sessões em que apenas anda em círculos. Após aproximadamente um mês de instalada – no último dia 20 – , a comissão ainda não conseguiu avançar em nenhum dos pontos de investigações propostos e levantar novas informações sobre denúncias de corrupção e má gestão do programa Cesta do Povo, do qual o governo Jaques Wagner (PT) afirma ter herdado da gestão anterior uma dívida de cerca de R$ 300 milhões, sendo R$ 80 milhões só com fornecedores. Neste meio tempo, após suspensão temporária do programa, o Executivo renegociou com credores e reabriu 184 lojas da Cesta do Povo em Salvador e em municípios do interior.

Após a instalação, a CPI fez uma sessão para definição dos métodos de investigação e deliberou realizar encontros com o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Antonio Honorato, e com o presidente da Ebal, Reub Celestino.

Os dois encontros aconteceram e Celestino se comprometeu a depor como convidado à CPI ontem, mas viagem de última hora impossibilitou sua participação, que foi transferida para a próxima semana, no dia 18.

Do TCE, os deputados conseguiram relatórios de fiscalizações feitas na Ebal nos anos de 2002 e 2004 e que nunca foram julgados pelo plenário do órgão. O Tribunal também vai enviar técnicos para auxiliar os trabalhos da CPI. As cópias das fiscalizações foram encaminhadas esta semana e na sessão de ontem foi deliberado que a presidência fizesse fotocópias do material para que todos os deputados lessem os relatórios até a próxima sessão da CPI.

Segundo avaliação dos deputados que compõem a comissão, os trabalhos só vão avançar após o depoimento de Reub Celestino, quando vão poder ter um painel de como a Ebal foi encontrada pelo atual governo e quais as linhas de investigações que vão ser adotadas, uma vez que já foi aprovada a divisão em pelo menos quatro subcomissões.

Por enquanto, o momento mais tenso da CPI continua sendo o bateboca entre o relator José Neto (PT) e Ângelo Coronel (PR). Na segunda sessão da comissão, em 28 de março, o petista questionou a permanência de Coronel na comissão uma vez que seu filho é sócio de empresa fornecedora da Ebal. Coronel admitiu a situação mas disse não ter nada a temer com as investigações. José Neto pediu, então, um parecer à Procuradoria Jurídica da Assembléia. Na sessão de ontem o requerimento, por escrito, do petista foi votado e aprovado. A resposta da Procuradoria deve ser dada em 15 dias.